Rio -  Agora que o ano começou para valer, a ideia de limpar o corpo das toxinas acumuladas com a farra alimentar das férias tem levado muita gente, especialmente celebridades, a fazer dietas que prometem desintoxicar e cortar quilinhos extras. E a do momento é a “juice fasting”; em português “suco de jejum” ou “suco de limpeza”. Os adeptos bebem apenas sumos de fruta e de vegetais (de 1 a 2 litros por dia) uma vez por mês ou mais.
Faz tanto sucesso que na Europa e nos Estados Unidos existem kits prontos das bebidas, acompanhados de pílulas de suplementos. O problema é que inexiste evidência científica de que dietas como a do “suco de jejum” levem ao emagrecimento saudável e à purificação do fígado, dizem médicos e nutricionistas. O certo é optar por alimentação balanceada, incluindo proteínas, carboidratos, de preferência integrais, e gorduras não saturadas.
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Mesmo assim há quem leve a sério a dieta “suco de jejum”, como as supermodelos Natalia Vodianova, Poppy Delevingne e Tali Lennox. Elas certamente estão brincando com a própria saúde, pois é praticamente impossível obter todos os nutrientes que o corpo precisa só com líquidos ou um tipo de alimento, alerta a Associação Dietética Britânica. No fim de janeiro, o ator Ashton Kutcher, que interpreta Steve Jobs no filme jOBS, ficou internado num hospital após fazer a mesma dieta seguida pelo fundador da Apple, baseada em apenas frutas, nozes e sementes, em alguns períodos.
E o risco à saúde pode ser maior quando se faz a dieta do “suco de jejum” com kits prontos, que chegam a custar 345 euros na Europa. O jornal inglês ‘The Independent’ testou um deles, que vem com comprimidos de suplementos, e as cápsulas continham substâncias potencialmente cancerígenas.
A nutricionista Andrea Santa Rosa, do Centro Brasileiro de Nutrição Funcional, afirma que dá para fazer uma dieta desintoxicante, desde que sob supervisão de médico ou nutricionista. “Dieta só à base de sumo de frutas e vegetais não é benéfica para a saúde”, alerta.
Ela explica que o objetivo de uma dieta desintoxicante de baixa caloria (até 900kcal) é a alcalinizar o sangue, tornando-o menos ácido. “Um pH alto (mais de 7.35) gera substâncias inflamatórias. A dieta rica em verduras, legumes e frutas ajuda a baixar o pH. Porém só isso não basta. O corpo precisa de proteínas, além de outros nutrientes, como os de sementes e cereais integrais. Caso contrário, além de ganhar gordura, perde-se massa muscular. E ninguém quer isso. Só recomendo detox de duas a quatro vezes ao ano, no máximo”, diz.
A nutricionista Virginia Nascimento, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição, reforça que a dieta do “suco de jejum” é insuficiente para as necessidades do corpo. “Ela tem apenas um efeito de limpeza e pode causar queda de pressão, fraqueza e diminuição de glicose no sangue, devido ao esvaziamento rápido do estômago”.
Detox por longo período cobra alto preço ao corpo
Adeptos do “suco de jejum” acreditam que esse tipo de dieta ajuda a prevenir e a tratar infecções e até mesmo doenças crônicas, como artrite. Mas o principal objetivo da maioria dos seus seguidores é mesmo limpar as toxinas que se acumulam no sangue e no fígado.
E como os sumos puros de frutas e vegetais contêm pouca ou nenhuma fibra, quem segue a dieta do “suco de jejum” costuma associar ervas e outros produtos laxantes para eliminar os resíduos dos intestinos e cólon, de forma eficiente. E alguns tomam um composto de fibras chamado psyllium, misturado com os sucos, para manter os intestinos trabalhando.
Esses truques podem até reduzir peso por um curto período, mas, com o tempo, a dieta vai cobrar um preço alto à saúde. Pesquisas mostram que há risco de piora do diabetes e deficiência de sódio, que, na dose certa, é essencial para o funcionamento das células. Catherine Collins, nutricionista no St George’s Hospital Medical School, em Londres, diz que “o conceito de detox é jogada de marketing. Assim com a ideia de que uma avalanche de vitaminas, minerais e laxantes tomados num período de dois a sete dias oferece benefício duradouro. Dietas detox, dependendo do tipo e do tempo de duração, não só causam perda de massa muscular, como há o risco de ganho de gordura após a desintoxicação”.
A nutricionista Virginia Nascimento diz que “essa dieta só se sustenta em ambientes monitorados, como spas, clínicas, e o tempo máximo da prática não deve passar de sete dias”.
Outras dietas absurdas
A Associação Dietética Britânica listou dietas absurdas ou perigosas para saúde.
DO ÁLCOOL
Uma delas é conhecida como alcorexia, comum entre celebridades. O objetivo é ingerir pouquíssimas calorias durante o dia para deixar espaço para beber bastante álcool. Claro que não fornece vitaminas e nutrientes. E pode causar coma alcoólico.
INTRAVENOSA
Os adeptos recebem na veia uma solução de vitaminas, magnésio e cálcio. Não funciona e ainda pode causar tontura, infecções e inflamação de veias.
ENTERAL
Em inglês, KEN. Por dez dias a pessoa não come nada. Fórmula líquida é liberada diretamente no estômago por meio de tubo plástico, como em hospitais.