Rio -  Aconteceu na Praça 15.
— Tem ar? — perguntei ao taxista.
— Tem! — respondeu, girando o pescoço feito um ventilador caseiro, enquanto os lábios em forma de selinho Hebe Camargo emitiam um sopro de ironia.
Suado, voltei a pé ao Arco dos Teles, onde o Rio de Janeiro permanece colonial, abanado por eunucos e sem bandeira 2.
A razão de recordar tal diálogo é simples: não existe um vagão de trem, um lotação desses 42 sentados e 200 erguidos, onde a frase “imagina na Copa” não esteja sendo dita. Estamos em dia?
Aqui, a preocupação é relevante: tem garçom pra tanta sede? E os mictórios dos nossos pés sujos, mínimos pra um gaiato biriteiro, como serão pros hooligans maçarandubas? Apela praquelas caixas químicas? Sou testemunha. Notei que um dos banheiros azuizinhos usados na folia flutuava por conta do gás metano despejado yellow no desfile do Sargento Pimenta. O sujeito só preservava a intimidade física entre os dedos enquanto o mijo jorrava feito Iguaçu na foz da Rua da Glória. Os outros 100 mil pierrôs e colombinas, bexigas cheias, desciam espremidos no acesso ao metrô. Help!
Filas, feito as imensas em padarias de Região dos Lagos nos feriados prolongados, cresciam na direção de qualquer objeto à venda, água mineral, amendoim com casca ou sacolé com vodca de nome impublicável por questões ortográficas e ausência de vogais.
Um parente mineiro entrou numa fila só pra sair do Bracarense.
Eu imagino na Copa...
Faço contas de um Monobloco subindo a Radial Oeste, o Bola Preta em forma de torcida pedindo um churrasquinho de gato no Portão 18, todos em volta da Estátua do Bellini, o clássico ponto de encontro com a noiva fanática por futebol.
Joseph Blatter, o dono da bola, pega carona com um mototáxi, capacete de caveira, depois engarrafar a seco na Praça da Bandeira. O Choque de Ordem transferiu pra região um antigo bloco da Zona Sul — Que Merda é Essa.
— Bem apropriado! — resmungou o presidente suíço, de terno e gravata.
A turma da Preta chega guiada por São Cristóvão, a estação colada ao estádio. Ela e os foliões desembestam pelo viaduto em passistas largos, belos pandeiros de causar inveja na Megan Fox. — Uma vez Brasil, Brasil até morrer!
São analogias de um momento épico no País, com hipérboles cariocas, euforias de uma cidade pacificada. Em cima da hora o desfile acontece, a grama cresce, o time engrena e o caneco é nosso. Verbete único no Manual de Instruções dessa vida espontânea, o jeitinho dá as cartas enquanto espero sentado num caixote qualquer, a próxima rodada por conta da casa. O gerente ri, eu presumo: “Imagina a conta!”
E-mail: moacyrluz@ig.com.br