Rio -  O time tá jogando por música!
— Tá, sim. A do Sepultura!
Humores existem pra serem exercidos. Às vezes confundimos com pessimismo, a parte “olheiras” do temperamento, o famoso: “Oh, vida! Oh, dia!”
Confesso minha queda por um mal-humorado. Meu amigo Baiano, nascido na Paraíba, conta a história de um conterrâneo, cara amarrada e voz de grunhido, respondendo a um carinho da esposa ao oferecer a sopa do jantar:
— Ponho no prato, Ernesto?
— Não. Joga no chão e traz varrendo!
Conheço dono de birosca louco pra esganar qualquer freguês que insiste em perguntar, com o dedo indicador na chapinha, se a cerveja tá gelada:
— Nada disso! Aqui a bebida é estilo Vesúvio, borbulha de quente e sai em lavas, feito o vulcão!
A profissão exige. No painel do condutor, uma placa: “Fale ao motorista somente o indispensável”. O sujeito passa do ponto tímido em perguntar onde descer pra Rua Cândido Mendes: “Não quis incomodar”, sussurra, dez quadras após.
O gaiato experimenta um novo mercado pras compras de fim de mês e, perdido na seção ‘pet-dog’, pede socorro a um repositor: —A carne moída, por favor?
Fuzilado com um olhar de salário baixo, trabalhando em feriado nacional e ainda ser revistado na saída, aponta na seção acima, a prateleira de isopores pra camping.
No fundo, é da natureza.
Um dia da Semana Santa é dedicado a Judas, o mala da última ceia. A malhação, se bem entendida, é uma catarse do mau humor. O fulano forra uma roupa velha, calça, camisa, cria uma cabeça amorfa e, fechando o corpo, uma cartolina com nome e dizeres referentes ao espantalho, e taca-lhe o porrete.
Épocas passadas, a vítima, quase sempre, era o vizinho implacável, aquele que rasgava as bolas caídas no quintal.
Hoje a lista é grande, não faltam assunto nem cabedal.
Alguns respiram a mesma ansiedade de uma malha fina da Receita, passar o Sábado de Aleluia sem ser notado, guardando novas declarações para o próximo exercício.
Outros, perto de Confederações em disputa, andam temerosos com seus bigodes. Eu aceito um ovo de Páscoa, mesmo sendo advertido pelo amigo da onça:
— Olha a glicose, isso é invenção de comércio! Olha a barriga!
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