Rio -  A política externa brasileira sempre foi respeitada. Pela orientação de bom-senso e equilíbrio e, sobretudo, pelo recrutamento de seus membros entre a elite cultural e social do Brasil. Este prestígio vem do Império.
O início do período republicano marcou grandes feitos, como os acordos de fronteiras e acompra do Acre, comandados pelo Barão do Rio Branco, a quem a República concedeu o privilégio, por respeito, ao uso oficial do título recebido do imperador. Sua doutrina prevaleceu até bem pouco, e sua família, presente na carreira. E são muitos os filhos e netos de diplomatas em atividade, o que, de certo modo, sustenta o prestígio de seus quadros.
Hoje, a orientação obedece a critérios ideológicos e não lógicos. Estamos distantes dos EUA, nossos mais tradicionais aliados e parceiros comerciais, e ligados a vizinhos sob suspeição, como Argentina, Venezuela, Uruguai e Bolívia. Isso sem falar na intimidade com Cuba, a ponto de termos promovido a entrega de dois atletas que pediram asilo, na calada da noite e em avião fretado.
Assistimos ao crescimento econômico e político superiores aos nossos do México, Colômbia, Peru e Chile. A reunião de Dublin, na semana passada, marca novas alianças arriscadas. E compromissos financeiros que podem redundar em prejuízos para o país, não bastassem as dificuldades enfrentadas aqui, na América do Sul.
Na política não se abandonam parceiros de longa data. JK, por exemplo, pressionado pelas esquerdas, negou-se a votar contra Portugal, em 1958, na ONU, justificando que as relações dos dois povos estava acima de questões políticas. Já Jânio Quadros foi logo condecorando Che Guevara e votando contra Portugal, assessorado pelo carreirista e pusilânime chanceler Afonso Arinos, que se prestou a ser ministro de Jango e depois formar entre os revolucionários de 64 em Minas. Muito diferente do pai e dos irmãos. Tivemos grandes nomes no Itamaraty. Entre eles: Vasco Leitão da Cunha, Mário Gibson Barbosa, Saraiva Guerreiro, Luís Felipe Lampreia, da casa; Raul Fernandes, Magalhães Pinto, Abreu Sodré, Oswaldo Aranha, Juraci Magalhães e Negrão de Lima, oriundos da classe política.
Hoje, temos um correto e modesto diplomata de carreira, certamente constrangido de obedecer a ordens de um assessor internacional sem compromissos com a diplomacia, mas, sim, com as identidades ideológicas, em que Cuba é a referência maior. Uma pena o esforço do Barão ter sido relegado ao passado.
Jornalista