Rio -  Joe Wallasch, representante do Grupo Time no Brasil, relata em livro que a Revolução Cubana de 1959 fez migrar capital de mafiosos para empresas de comunicação na América do Sul. Depois vieram as derrubadas de governos populares em toda a América Latina. A Igreja no Brasil fez parte do complô que resultou no Golpe de 1964, mas posteriormente se colocou ao lado dos perseguidos. Na Argentina, a Igreja pediu desculpas pelo papel que desempenhou na Guerra Suja, quando mais de 30 mil pessoas foram sequestradas e assassinadas.
eleição do Papa Francisco reacendeu a discussão sobre aquele período, pois foi acusado por dois padres de lhes haver retirado apoio, ocasionando-lhes prisão e tortura. Um deles, Francisco Jalics, ainda vivo, diz que se reconciliou com o Papa. Se houve reconciliação, antes houvera desajuste. Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel diz que apenas faltou ao Papa coragem de se opor ao regime militar. Um jesuíta não mente, mas exercita a ‘reserva mental’, que é uma forma particular de não dizer a verdade. O que o desencorajava?
Assim como a escolha de João Paulo II ‘pôs em xeque’ o regime polonês e indicou o caminho que levaria à queda do Muro de Berlim, a eleição de um argentino conservador — tão popularesco quanto aquele —, num momento no qual o povo latino-americano começa a encontrar seu caminho, pode ter significado. Mas também pode ser resposta ao fundamentalismo neopentecostal e à sua materialista teologia da prosperidade.
A Igreja sempre fez política. O Papa Pio XII abençoou os canhões de Mussolini, e na Espanha cogitou-se beatificar o ditador Franco em vida. A Igreja foi o maior entrave à unificação da Itália. Florença vivia sob interdito papal. Maquiavel, em ‘Histórias Florentinas’, diz que “o povo preferiu a grandeza da cidade à salvação de suas almas”. Resta ao povo sul-americano, independentemente de sua fé, distinguir seus interesses dos de seus líderes religiosos.
Doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito. Membro da Associação Juízes para a Democracia